OLHAR DE UMA VIAJANTE: PICO PARANÁ -PR

MISSÃO ACERTADAMENTE ABORTADA.

Não vi nada além da trilha que a lanterna iluminava. Não sei por onde andei, não consegui me localizar. Só escuridão.

Nosso objetivo é o cume do gigante Pico Parana com seus 1877 m. de altitude que está localizado na Serra do Ibitiraquire em Campina Grande do Sul no Paraná. É o ponto mais alto do Sul do Brasil.

Ele é atraente. E os montanhistas e aventureiros paranaenses são fascinados por ele. Alguns já subiram muitas vezes, outros pensam em estar lá um dia. Não é uma trilha para iniciantes. O esforço físico é grande.

São 6 horas ou mais caminhando quase que direto e um pouco menos pra descer.

Eu é claro, sempre pensei em subir esse Morro. E acho que agora estou preparada. Lá vamos nós enfileirados noite a dentro.

Pico Paraná visto do Morro Caratuva

A aventura começa na Fazenda Rio das Pedras em Campina Grande do Sul, início e entrada da trilha.

Não bastasse o desafio de alcançar o Pico, ainda vamos trilhar a noite para aumentar a dificuldade, porém a noite não vamos cansar tanto quanto durante o dia.

Obstáculo e percalços é o que não faltam nesta trilha. Muitas raízes e pedras pra contornar. Como diz nosso guia, só "perrengue".

A trilha é longa, sobe e desce mata a dentro. Passamos pelo Morro do Getulio, esse mais baixo e mais tranquilo. A lua nos acompanhou até entrada do Morro Caratuva que fica a esquerda da trilha. Depois vem o Itapiroca a direita, depois desce e sobe a Crista e ainda os tais Abrigo 1 para acampamento e tem, já lá pro alto o Abrigo 2. É tudo que sei e ouvi, porém não vi nada. Vou ter que mostrar na próxima.

A chuvinha fina começa, mas estamos animados.O cheiro e o barulho do mato renovam as forças. O ânimo é alto. Nem lembramos de nada. Só prestamos atenção na trilha. Todo cuidado é pouco.

A chuva aumenta e já estamos ficando molhados. O frio aumenta mas vamos em frente, porque enquanto caminhamos nosso corpo permanece aquecido. Já estamos numa altitude avançada. A chuva aumenta e o líder do grupo acha por bem parar e confabular. Vamos chegar no topo antes do nascer do sol, isso se o sol aparecer pela manhã, vamos ter que ficar parados descansando enquanto esperamos o amanhecer. Se pararmos corremos o risco até de hipotermia, porque além de estarmos molhados da chuva a temperatura estava muito baixa e o vento deu o ar da graça. Mas a esperança de que o tempo melhorasse falou mais alto e resolvemos ir mais um pouco. Ledo engano, os obstáculos só aumentaram, a chuva também.

No paredão onde começa o PP ( Pico Paraná) estão os grampos e as cordas que servem de apoio. Encaramos este obstáculo.

Chegamos até a Casa de Pedra já no alto. Estamos congelando, tremendo. A Casa de Pedra não tem teto. Não podemos mais ficar ali parados. Até o topo ainda temos mais ou menos 1 hora.

A solução é descer, caminhar de volta para aquecer.

E lá vamos nós um pouco frustrados mas conscientes de que esta foi a melhor decisão a tomar.

Ninguém reclamou. Que grupo descente, valente.

No final das contas, caminhamos aproximadamente umas 11 horas quase sem descanso.

Confesso que estou decepcionada. Minha expectativa era de ter a maior e a melhor visão do alto daquele Morro. Gosto de amplitude, de ver ao longe. Mesmo que fosse um mar de nuvens com alguns picos aparecendo.

Mas pra que lamentar. Valeu muito. Teremos outra chance.

Vou ter que marcar uma outra subida. Ainda mais agora sabendo que posso, que consigo.

No auge dos meus 62 anos estou fisicamente preparada. Com o folego em alta. Acompanhei em quase todo o percurso o pelotão da frente. Cheguei inteira! Apesar de ser chamada de "senhorinha" por alguém.

Não, senhorinha não faz trilha noturna rumo ao Pico mais alto do sul do Brasil.

Ainda vou mostrar fotos do cume deste Morro aqui no blog. Me aguardem!

Logo que chegamos já pela manhã no Morro do Getulio o sol nos iluminou e nos aqueceu. A Represa Capivari ficou a mostra. Foram estas as fotos que consegui.